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Se você crê naquilo que nos evangelhos é de seu agrado e rejeita aquilo de que não gosta, não é nos evangelhos que você crê – mas em si próprio. (Santo Agostinho)



quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Carta a um Amigo I - Deus se Apartou?

Prezado amigo,

Como bem sabes, o assunto questionado por ti sempre despertou meu interesse e minha dedicação nos últimos anos, mas nada a ver com religião, e sim, com fé.

Antes porém, te alerto a examinares as Escrituras de forma bereana (At 17:11) diante das linhas a seguir, aproveitando o que tua consciência ou teu sacerdote permitir.

No tocante ao questionamento sobre o fato de Deus ter se apartado de Jesus (na cruz) por um determinado momento, em função deste (Jesus) ter carregado para si nossos pecados, raciocinando, que se o pecado nos afasta de Deus, assim ocorreu com Jesus ao trazer para si todo o pecado da humanidade, devo tecer algumas considerações.

Primeiramente, deves compreender, e creio que já compreendes, que Deus é um só (Rm 9:5; Tito 2:13; Ef 4: 5-6) em seu ser essencial, mas que nesse ser existem três pessoas, sabendo que não formam três indivíduos separados e distintos. São três modos ou formas em que a essência divina existe (Teoria da Trindade).

Jesus Cristo é o próprio Deus. Jesus se declarou em unidade com o Pai (João 10:30). O Evangelho de João diz que no princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus e o verbo era Deus (1:1). O verbo se fez carne e habitou entre nós (1:14). O verbo é Jesus! Cristo é saudado como Deus e os anjos são ordenados a lhe prestar adoração (Hebreus 1:6).

Quem, senão o próprio Deus para afirmar, por exemplo, como na ressurreição de Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente”.(João 11:25-26). Ou afirmar: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida”.(João 14:6).

Quem senão o próprio Deus, a ser considerado o Messias (João 4: 25-26), O pão da vida (João 6:35; 6:48), A luz do mundo (João 8:12; 9:5), O bom pastor (João 10:11; 10:14-15), A videira verdadeira (João 15: 1-5), O alfa e o ômega (Ap 22:13) e a brilhante Estrela da manhã (Ap 22:16).

Jesus veio em forma humana e tinha emoções terrenas, num caminho de obediência e sofrimento, daí, o fato dele expressar sentimentos e reações tipicamente humanas, como, por exemplo, sua aflição no Getsêmani (Mateus 26: 37-39), ou simplesmente o fato dele orar ao Pai durante toda uma noite (Lucas 6:12), valer-se da Palavra de Deus (está escrito) para resistir ao maligno (Mateus 4: 1-11), quando poderia agir de outra forma (Mateus 26:53), além de num momento de profunda dor e sofrimento durante a crucificação, ter recitado o trecho de um Salmo messiânico (Sl 22:1; Mateus 27:46).

Muito embora, como dito, no ministério terreno de Jesus, verificaram-se várias manifestações da natureza humana, as sagradas escrituras deixam claro que Jesus é onisciente (Mateus 9:4; João 1: 48-50;), onipresente (Mateus 18:20), perdoa pecados (Marcos 2:5; Lucas 5:20; João 8) e cura (Mateus 8: 28-33; 9: 20-22; 17: 14-20; 20:29-34), sendo essas qualidades divinas.

A missão de Jesus está muito bem definida no Evangelho de João (3:16-21), de maneira que trazer para si nossas transgressões, como profetizado pelo profeta Isaías cerca de oito séculos antes do Seu ministério (Is 53: 1-12; Mateus 8:17; 1Pe 2:24; 2Co 5:21; Gl 3:13) representa o cumprimento do plano de salvação feito por Deus para a humanidade, através da obra expiatória de Jesus, para paz e cura (Is 53:5) daqueles que creêm.

Não há dúvida que pesou sobre a natureza humana existente em Jesus a ira de Deus contra o pecado, mas daí a afirmar que houve abandono da natureza divina por parte de Deus, é um tanto exagerado, de maneira que a pessoa do Mediador (Jesus) foi e continuou sendo objeto do favor divino.

Jesus ao clamar: “meu Deus, meu Deus por que me desamparaste?” (Mateus 27:46), deixa claro que a sua natureza humana esteve consciente da ira divina que pesava sobre ela, mas mesmo durante a intensa dor e sofrimento, até o último momento, manteve-se em oração, dizendo antes de expirar: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lucas 23:46). Como também, ao proferir: “Está consumado!” (João 19:30), demonstrando consciência diante de Sua obra.

Com relação ao fato do pecado afastar de Deus (Is 59: 1-15), quanto a isso não há dúvidas, mas as remissões bíblicas constantes em Isaías estão afetas ao fato de não se ter as orações ouvidas, em razão de estar em pecado (Dt 31: 16-18; Is1:15).

Em Jesus não há pecados (1Jo 3:5) e a expiação foi feita pelos nossos pecados (1Jo 4:10), logo, não faz sentido crer que Deus apartou-se de Si (Jesus) em função da Sua obra redentora, sendo cabível a idéia de que Jesus não foi deixado sobre o poder da morte (Sl 16: 8-10; At 2: 29-32; At 13: 34-35), que aos que creêm, é a pena do pecado (Rm 6:23).

Aliás, o importante é crer na obra redentora de Jesus e na grande demonstração de amor que foi ofertada por Deus, mediante a fé em Cristo Jesus, crendo principalmente na ressurreição (1Co 15: 14-17). Perde-se muito, quando certos temas que deveriam ser abordados de forma singela têm destaque durante a propagação do Evangelho. Tais abordagens são frutos da curiosidade na incessante busca pelo saber, mas acaba sendo prejudicial na missão de pregar o Evangelho que remeta ao arrependimento.

Há diversos temas controvertidos abordados pelas teologias bíblica e sistemática, como por exemplo, até ligado ao que questionaste, a respeito de quem seriam os mortos e como lhes foi pregado o evangelho, citados por Pedro (1Pe 4:6) ou a descida do Salvador ao hades (Ef 4:9; 1Pe 3:18-19). Tu deves deixar, assim como eu, tais discussões para os teólogos, de maneira que não se anule a cruz de Cristo pela sedução da sabedoria (1Co 1:17).

Espero ter colaborado, despedindo-me com um fraterno abraço.

Luciano Carvalho de Souza